O navio cruzeiro Costa Favolosa encerra sua temporada no verão brasileiro e se dirige ao hemisfério norte numa viagem transatlântica. Porém sua data de passagem na Bahia, nossa base territorial, não nos favorecia para embarque. O navio ancorou em Salvador no dia 29/03/19, a poucos dias do nosso casamento. Teríamos que pensar em uma outra alternativa para subir a bordo.
A ideia é cruzar o Oceano Atlântico rumo a Europa, dentre as possibilidades, avião e navio, a segunda ganhou nossa preferência por combinar um passeio com benefícios. Além de ser um meio de transporte, o navio cruzeiro é uma atração a parte, vamos dedicar esse post para compartilhar um pouco de nossa experiência embarcada nessa cidade flutuante.
A seleção de uma viagem como essa é estritamente pessoal, já que existem diversos navios que fazem esse trecho, em dias diferentes e preços diferentes que variam dentro de cada embarcação inclusive a depender do que é oferecido a bordo.
Baseado em nossas datas disponíveis, a melhor opção se tornou o Costa Favolosa, da Costa Cruzeiro, uma companhia Italiana. O navio partiu do Porto de Santos/SP com parada final em Savona – Itália no decurso de pouco mais que duas semanas. O tempo a bordo pode parecer grande, entediante ou monótono, mas longe disso.
Sua primeira decisão a bordo de um cruzeiro é relacionada a sua hospedaria, portanto isso é extremamente particular, vamos expor nosso ponto de vista, é claro que cada um pode ter o seu divergente. Partimos do pressuposto de que como habitualmente utilizamos nossa acomodação para acomodar nossas coisas, tomar banho, carregar equipamentos e dormir, nivelou por baixo todas as cabines, todas atendiam a essa expectativa. Num segundo momento, dispensamos janelas e varandas, muito embora pudessem nos render fotos belíssimas, nós aproveitaríamos menos do que o custo que elas representam na hora de fazer a reserva, por isso optamos por uma cabine do tipo interna, ela pode prevenir do enjoo e maresia, já que você não tem um referencial marítimo. Outro aspecto que você pode considerar é sobre o seu andar, existe uma grande variação de preço em detrimento da posição de sua cabine frente as comodidades do navio, serviços e a fins. A gente escolheu uma cabine Samsara.
O que difere a cabine Samsara das demais? Foi essa a pergunta da Recifense que almoçou conosco outro dia. Bem, comparar sua cabine com outra que você não acessou é difícil, mas o que respondemos a ela basicamente foi que; a cabine Samsara lhe garante acesso irrestrito ao Spa Samsara, uma atração a parte e exclusiva do navio. Um lugar com saunas, banheiras e piscinas exclusivas, inseridas num ambiente extremamente relaxante, composto sempre com uma música ao fundo, aromas, cores e uma composição que proporcionam profunda sensação de bem estar. Oferece ainda pontos de vista exclusivos, enfim, é uma viagem a parte, que vale a diferença que se paga.
A cabine é compacta, duas camas super confortáveis juntas formam uma cama de casal king size, iluminada por duas luminárias em criados mudos, criam uma iluminação indireta muito agradável. A suíte possui um banheiro completo e compacto, onde cada espaço é bem aproveitado. De facilidades, existe uma mesa escrivaninha, com um espelho e penteadeira que garante um look certo pra sair pra andar. Por falar em espelhos, são quatro na suíte, todos bem posicionados. A decoração combina quadro de porcelana chinesa com uma mulher de vestido vermelho, a segunda é vista emoldurada em outras paredes do navio também. O armário guarda roupas é de bom tamanho, com três portas é bem distribuído, contendo inclusive um cofre de combinação personalizável. Na suíte você vai encontrar também um frigobar completo, a depender de seu pacote de bebidas como falaremos a seguir.
Esse é o nome do pacote de bebidas que escolhemos. Esse item também é personalíssimo, a gente escolheu ele por conta da possibilidade de em qualquer bar ou restaurante, a qualquer momento, escolher dentre dezenas de opções de bebidas, alcoólicas ou não, sem taxas extras, sem restrições, sem surpresas. Sentar, escolher, pedir e beber, prático. Essa escolha foi feita por nós antes de embarcar, ainda na reserva, você tem acesso as principais diferenças entre os pacotes para facilitar sua tomada de decisão, nosso pacote é inferior ao Inteditore, que abarca uma variedade de marcas, mais famosas de bebidas e ambos são diferentes do Piu Gusto, um pacote mais voltado para drinks. Por ser uma cabine Samsara a nossa, já teríamos que escolher um pacote.
Da hora que você faz a reserva até embarcar de fato em seu porto escolhido, acontece alguns processos alheios a sua vontade, eles incluem, a seleção de sua mesa de jantar, que é fixa e marcada, atrelada a um turno de horário, registro de seus dados no site da empresa, o nosso caso, fomos notificados para alterar a numeração do passaporte, vez que no intervalo, havíamos confeccionado outros. Eles também lhe mandam seu cartão de embarque, um voucher que tem que ser impresso e levado no dia, bem como suas etiquetas de bagagem, que devem ser por você mesmo dobradas, coladas ou grampeadas na sua própria bagagem, eles te entregam duas por cada passageiro, caso precise de mais, deverá solicitar.
Viajamos de Salvador para Recife para pegar nosso navio, o vôo matinal chega por volta do meio dia na capital do frevo, tempo suficiente para você providenciar seu deslocamento até o porto. De Uber gastamos um pouco mais de R$13,00 e cerca de 35 minutos com um trânsito de moderado pra pesado, esteja atento a essas complicações.
O embarque é precedido por uma fila de inspeção documental, o processo automatizado é prático e rápido, basta que esteja a mão teu passaporte e cartão de embarque. De lá somos direcionados para ônibus que fazem o translado dentro do porto, não é permitido caminhar no porto, portanto os ônibus lhes levará diretamente ao navio, provavelmente nesse momento você se despedirá de sua bagagem, mas ela chegará a sua cabine primeiro que você. Optamos por carregar mochila e malas pequenas conosco, despachamos apenas as duas maiores.
A inspeção alfandegária e da Receita Federal é simples, verificando o passaporte, validando a foto e passando pelo raio x juntamente com a bagagem, pronto, já está a bordo. Sorrisos, essa é a primeira foto do navio, vai se acostumando, eles estão por toda parte tentando lhe arrancar as melhores poses, suas fotos são reveladas a revelia, custam-lhe US$15,00, se comprar mais que 7, o preço cai para US$7,00 por foto, ainda você pode fazer um álbum de vinte páginas com as fotos que você escolher no curso de sua viagem, custando-lhe US$250,00. Ou seja, a dica valiosa é, leve consigo equipamentos para tirar suas próprias fotos, um bom celular, um monopod, tripé, ventosa, qualquer coisa que tire fotos diferentes de selfies, ou você só terá suas lembranças na memória de sua viagem.
Nosso trecho prevê 5 dias e noites navegando do Brasil até a Ilha de Santa Cruz de Tenerife, consultar o diário de bordo, que é entregue na noite interior, é de suma importância para se programar, são diversas atrações que acontecem simultaneamente em pontos diferentes do navio. Entre as opções, as clássicas são as brincadeiras com os animadores, as danças com os professores, aulas de idiomas, práticas desportivas entre uma atividade e outra, uma promoção aqui e alí. As piscinas e áreas de sol também são uma grande atração, água salgada e doce dividem o público entre as hidromassagens, piscinas com ondas, tobogãs, as opções não têm fim. Tem filmes, cassino, jogos, gratuitos ou pagos, música boa e claro, muita comilança.
Nossa primeira oportunidade de conhecer terra firme em solo europeu foi uma das ilhas espanholas Canárias em Santa Cruz de Tenerife. Mundialmente conhecida por ser uma zona franca de comércio livre de tarifação, a nossa experiência em Tenerife se limitou a caminhar por quase 18km na ilha. Subestimamos seu tamanho, numa analogia a nossa ilha brasileira de Fernando de Noranha, é bem maior, bem mais pujante, bem mais cosmopolita e com muito mais atrativos.
Nos limitamos a devagar de loja em loja, comparando nossa experiência de produtos americanos, brasileiros e agora os espanhóis, nossa estratégia era comparar preços dentre as realidades já conhecidas e verificar se valia mesmo o peso extra a carregar nas compras e no decurso da viagem. Por muito pesquisar, encontramos excelentes oportunidades de compras, descontos de mais de 200% em calçados, óculos, cosméticos e perfumarias se comparadas a realidade brasileira e ao mercado americano, ainda assim os preços espanhóis foram melhores nesses quesitos.
Acordamos cedo para o desembarque no navio, talvez por isso, tivemos sorte em utilizar a própria proa do cruzeiro como mirante de plano de fundo para nossa primeira foto em Tenerife. Ademais, não tivemos dificuldades para o desembarque, os procedimentos de segurança só requerem que você leve seu cartão chave, porém, tivemos que regressar ao navio para buscar nosso passaporte, embora ele seja retido no seu embarque, para uma simples compra de um chip telefônico, ele fora requerido, por nossa sorte, tínhamos dois deles, voltamos a bordo para busca-lo. Na saída, você é submetido a uma busca com cães, particularmente sou fã do potencial que o animal pode desempenhar na atividade policial, sem maiores complicações fomos revistados, bem como nossa bagagem de mão, reunimos características para uma segunda abordagem, negros, jovens e brasileiros, dessa vez mais detalhada, onde nossa mochila foi aberta e vistoriada por uma autoridade, depois disso, caminho livre até as ruas da cidade para muita caminhada e compras, só não esqueça de converter suas compras de euro pra reais.
De volta ao navio, é bom se antecipar ao aviso de “todos a bordo”, geralmente o navio não espera, portanto se antecipe. De volta ao navio, descobrimos que nosso roteiro foi alterado, ao invés de irmos para Arrecife, Lanzarote como planejado, foi modificado para Las Palmas, de acordo com o aviso do comandante, houve uma necessidade técnica para mudar e assim consecutivamente, todos que já haviam comprado seus pacotes de passeios, foram reembolsados pelo navio.
Com a mudança no curso da viagem, nossa próxima parada foi em Las Palmas, dada a intempestividade, nem mesmo o navio tinha programação certa para esta parada, na verdade, programação alguma, a orientação do diário de bordo era fazer um turismo a pé pela cidade, isso é certo em todas as nossas viagens.
Chegamos em Las Palmas pela manhã cedinho, deu tempo de ver o navio atracar no porto de manhãzinha, um frio gostoso convidou a tirar aquelas roupas mais quentinhas da parte gélida da mala, num cruzeiro transatlântico montamos a mala em quatro seções, praia, calor, frio e neve, bem opostos, mas é o que se presume quando se cruza a linha do Equador.
A cidade é maior que a anterior, afinal, é a capital das Ilhas Canárias, descemos antes mesmo que o comércio abrisse, demos de cara com o Museu Elder, foi a nossa primeira observação em comparação com nossa terra brasileira, como a valoração da cultura e tecnologia é diferente, uma vez que chegavam ônibus e mais ônibus que traziam crianças e adolescentes de toda parte para conhecer o museu.
O transporte público também chamou atenção na cidade, eram muitos ônibus amarelinhos passando, até nos deu vontade de subir num, um turista perdido é um turista feliz. Entramos no primeiro que parou e cortamos toda a cidade, andamos por quase 30 minutos até vermos o até então maior shooping que já tínhamos visto, o Alisios, era uma espécie de galeria, de outlet, de shopping, tudo em um tamanho macro. Pedimos a parada e saltamos.
A primeira coisa que nos chamou atenção foi uma super academia que tinha dentro do shopping, pedimos autorização para entrar e conhecer e fizemos um mini tour, a organização, modernidade nos fez viajar em contraste com toda a classe e tradição que havia até então. Caminhamos pelas lojas e rapidamente percebemos que os preços eram ainda melhores do que de Santa Cruz de Tenerife, com mais opções e concentração de lojas, todos os 18km que percorremos na outra ilha estavam ali, num mesmo shopping. As melhores lojas e as maiores marcas. Por ser afastado do epicentro da cidade, não encontramos dificuldade alguma, exceto para o retorno. O Google Maps indicava um determinado ônibus para o regresso, que simplesmente não apareceu, receosos com o horário de regresso, voltamos com táxi por 9,5 €, chegamos mais cedo do que precisávamos, mas foi melhor que o revés.
Nossa primeira parada em continente firme foi em Málaga - Espanha. A cidade é um convite a história, arqueologia, geologia, geografia, arquitetura, um pouco de tudo. No Navio é oferecido diversos pacotes de turismo, por um lado é ótimo, porque você tem a certeza que ele não vai partir sem você, mas por outro lado, você tem que desembolsar uns dólares pelo serviço. Desenrolados que somos, fomos pela cara, coragem e Google, quem tem Google vai a Roma.
Na saída do porto existe opções de sair de ônibus, os tais shuttle bus, táxi, ou caminhando, a gente foi a pé mesmo, a distância não parecia ser muito grande. Logo de cara nos deparamos com uns Lime estacionados, já conhecíamos desde a Califórnia os patinetes elétricos, instalamos os aplicativos e alugamos dois para fazer nosso passeio.
Como nos EUA, não é um transporte barato, pra piorar, a gente ainda paga em Euro. A gente pegou eles e rodou por quase uma hora por toda a cidade, a rua com piso bem lisinho da pra andar tudo em boa velocidade, a cidade é preparada para esses transportes alternativos, passamos entre bicicletas, patins, patinetes, skates, pedestres, é uma loucura, o vexame é pra devolver eles, já que não se pode largar em todo lugar, correndo o risco de tomar uma multa.
Em Málaga fizemos tudo a pé, conhecemos os pontos turísticos utilizando as sinalizações que funcionam. Sem guia, sem pacote, a gente não se atrasa, tem tempo pra tirar a foto que quer, e economiza uns Euros.
Outro navio também aportou em Málaga, o MSC, com ele veio nosso amigo de Luis Eduardo Magalhães, Gandis Lopes e sua amada, parece inacreditável mas nos encontramos lá.
A parada seguinte de nosso navio foi em Barça. Nosso primeiro contato com uma megalópole européia, a cidade é gigante, as opções mais ainda, não tem como não ficar perdido, muito embora tenhamos feito uma programação, parece que a gente não vai dar conta, mas consegue.
Nossa primeira providência foi gastar o castelhano comprando remédio pra gripe, já que a essa altura no 12º dia, boa parte dos passageiros já estavam tossindo e espirrando, e a essa altura, Dica já começava a apresentar alguns sintomas. Depois seguimos para o metro, comprando um Ticket com validade para 10 viagens, da pra usar pra os dois tranqüilamente e conhecer boa parte da cidade.
Esse foi o nosso plano, acabou que não fomos a praia, e acrescentamos em cima da hora uma visita a casa do Barcelona Futebol Clube.
Pensou em frio europeu? Por aí, o diário de bordo anunciava 9º graus, pela janelas vimos os funcionários da Costa cobertos da cabeça aos pés, não a toa, o frio retado, com um vento, diminui mais ainda a sensação térmica. Primeiro dia que mudamos o enxoval de calor e praia, para o clima frio e vento gelado.
O hábito de caminhar nos economizou 12 Euros, o ônibus da prefeitura faz o mesmo trajeto do ônibus do navio, a diferença, é que ele não lhe cobra por isso.
Chegamos na França em pleno Domingo de Ramos, nossa providência foi visitar a principal igreja da cidade e pra variar, nos deixar se perder pelas formações arquitetônicas, pelas ruazinhas apinhadas de carros e motos e o temido contato com o francês, esse idioma pra lá de peculiar sem nenhuma familiaridade para os falantes da língua portuguesa. Passamos o teste, compramos bilhetes de trem, passeamos pela cidade usando o transporte público, encaramos uma sopa, deliciosamente quente e picante que nos fez esquecer por um tempo o frio.
Todas as noites no navio é servido um jantar. O ritual é o mesmo, você chega, senta, seu cardápio vem, você escolhe - Antipasti, Primi Piati, Segundo Piati, Insalata, Dulce e bebidas. Em cada momento, vai chegando sua escolha, você come, bebe e se vai. A peculiaridade é que você sempre senta na mesma mesa, com as mesmas pessoas ao redor, atendido pelo mesmo garçom.
A gente tirou uma sorte grande, nosso garçom de primeiro nome difícil e segundo fácil, Balmick, com 10 anos de experiências a bordo da Costa, fez toda diferença em nosso jantar. Teve noite de apresentação artística dos garçons, teve dança, teve sobremesa em dobro, enfim, um serviço de excelência, sem cobrar 1% de serviço.
Na nossa última noite no navio, preparamos uma surpresa pra ele, uma lembrancinha direto da Bahia e o entregamos, assim nos despedimos, juntamente com nossas vizinhas de mesa, as "divorciadas" paulistas.
Se um dia lhe bater vontade de viajar de navio, vá. Conhecemos dezenas de pessoas que já ultrapassam pra mais de 20 viagens, uns com os mesmos trajetos, Brasil x Europa e Europa x Brasil, outros com os mais diversos possíveis, dá pra entender o porque.
O custo de uma viagem de navio está diretamente relacionado com os benefícios que você desfruta em seu hotel flutuante. Todas as refeições, festas, espetáculos e comodidades, agregam um valor que somados isoladamente, impactariam muito mais no custo da viagem, aproveitar isso, enquanto tem a oportunidade de conhecer diversos roteiros, lugares, pessoas, não tem preço.
Sem enjoar, sem vomitar, sem stress, o mínimo que você tem que planejar, é arranhar num inglês, muito embora os funcionários tenham boa vontade para lhe ajudar no seu idioma, muitas vezes, o bom e velho inglês é o seu coringa para tirar dúvidas e lhe tirar daquele aperto.
Quanto maior antecedência para o planejamento da viagem, maior a economia e os descontos, um pacote de fidelidade também pode lhe acrescer mais descontos, viajantes de viagens em sequência, tem desconto, e por ai vai. Esperamos que essas poucas linhas lhe sirvam de inspiração para fazerem a viagem dos sonhos, nosso Instagram com as stories dos lugares que passamos é o @passodestrada.